Dentre os fatores responsáveis pela decomposição dos produtos cosméticos, temos dois tipos, descritos a seguir:
1) EXTRÍNSECOS: Referem-se a fatores externos à formulação, as quais são expostas.
a) Tempo: O avanço do tempo ocasiona reações de decomposição ou envelhecimento na formulação, com alterações das características físicas, físico-químicas, químicas, microbiológicas e toxicológicas das formulações.
b) Temperatura: O aumento da temperatura, em geral, provoca um aceleramento nas reações de decomposição das substâncias presentes na formulação. Este problema pode ser ocasionado pelo processo de fabricação ou armazenamento inadequado do produto. Podemos citar como exemplo, as enzimas que são sensíveis a temperaturas elevadas.
c) Luz: A luz ultra-violeta é uma radiação de alta energia que origina a formação de radicais livres, juntamente com o oxigênio, desencadeando reações de oxido-redução. As formulações sensíveis à ação da luz devem ser acondicionadas ao abrigo da luz, em frascos opacos ou escuros. Devem ter substâncias antioxidantes em sua formulação, a fim de retardar o processo oxidativo. Temos como exemplo de substâncias sensíveis à luz: vitamina C e E, hidroquinona e corantes.
d) Oxigênio: Origina reações de oxido-redução com a formação de radicais livres. Estas reações são aceleradas pela luz, calor e metais pesados, como ferro e chumbo. Como exemplo de substâncias sensíveis a oxidação, temos: retinol, vitamina C e E e os óleos vegetais.
e) Umidade: Este fator extrínseco afeta principalmente as formas cosméticas sólidas, como talco, sabonete em pastilha, sombra, sais de banho, dentre outras. Ocorre alteração do aspecto físico do produto, que ficam amolecidos ou pegajosos. Outro problema da umidade envolve a contaminação microbiana.
f) Material de acondicionamento: Temos inúmeros materiais utilizados para os produtos cosméticos, como vidro, metais e o plástico (mais comumente utilizado). Considerando-se o vidro, temos vários tipos com custo diferenciado. Alguns tipos podem ceder álcalis às formulações, alterando sais de alumínio e cobre, por exemplo. O acondicionamento com material metálico necessariamente deve ter a proteção de uma resina interna, a fim de evitar a liberação de metais que poderiam catalisar reações de oxidação. O plástico é o tipo de material mais utilizado em produtos cosméticos. Pode ceder componentes de sua formulação, como corantes e monômeros adsorver elementos da formulação. Podemos ter alteração na flexibilidade do material, vazamento, ruptura, delaminamento e falta de resistência à impressão.
g) Microrganismos: Os produtos cosméticos mais problemáticos são os que apresentam água em sua composição, como as emulsões, géis, suspensões e soluções. A conservação das formulações, complementando as Boas Práticas de Fabricação adotadas na elaboração do produto, se faz necessária com sistemas conservantes adequados e validados (Teste de eficácia do conservante).
Devemos também cuidar da limpeza do material de acondicionamento, que pode ser fonte de contaminação do produto.
h) Vibração: A vibração que ocorre com o produto durante o transporte pode afetar a estabilidade das formulações, ocorrendo: separação de fases (emulsão), diminuição da viscosidade de géis e compactação de suspensões, por exemplo. Um fator agravante do efeito da vibração é a temperatura elevada que pode estar presente durante o transporte do produto.
2) INTRÍNSECOS: São fatores relacionados à própria natureza das formulações e sobretudo à interação de seus constituintes, componentes ativos, componentes da formulação e material de acondicionamento. Geram incompatibilidades, que podem ser Físicas, onde temos alterações do aspecto que é visualizado e para o consumidor é o único tipo de alteração perceptível e a Química, que ocorre por interação entre componentes e/ou material de acondicionamento, ocasionando alteração na ação do princípio ativo e efeitos tóxicos.
a) Incompatibilidade Física: Temos alteração no aspecto físico da formulação e às vezes da concentração dos componentes ativos. Temos dois tipos comuns nas formulações cosméticas.
a1) Solução incompleta: Origina o aparecimento de uma mistura não homogênea, podendo ocorrer pela imiscibilidade ou insolubilidade das substâncias. Exemplos: gomas (xantana, arábica), são insolúveis em álcool; resinas ou bálsamos (Tolu, Peru) são insolúveis em água.
a2) Precipitação: Ocorre pela adição de um solvente no qual a substância é insolúvel. Exemplos: mucilagem e albumina em água precipitam com a adição de álcool.
b) Incompatibilidade Química
b1) pH: Devemos considerar vários aspectos, como o pH de maior estabilidade do componente ativo, pH de compatibilidade entre os princípios ativos e também com a forma cosmética e o pH da formulação que deverá ser compatível com o pH da pele (4,5 a 6,5), a fim de se evitar reações de irritação. Temos que considerar que alguns princípios ativos apresentam ações diferenciadas na pele, considerando o valor de pH. Como exemplo, temos o ácido glicólico no intervalo de pH entre 3,0 e 4,0 atua como esfoliante da pele e em pH 6,0 atuaria apenas como hidratante.
b2) Reações de óxido-redução: Ocorre a oxidação de substâncias com alterações da atividade das substâncias ativas, odor, cor e características físicas das formulações. Citamos como substâncias sensíveis: óleos vegetais, essências, algumas vitaminas, dentre outras.
b3) Reações de hidrólise: Ocorre pela ação da água, sendo sensíveis substâncias com funções éster e amidas, como a uréia. Quanto maior o teor de água da formulação, maior a chance de ocorrer este tipo de reação.
b4) Interação entre componentes da fórmula: Temos alguns exemplos: Parabenos (metil e propilparabeno) com polissorbatos e polietilenoglicóis; Tensoativos aniônicos com catiônicos
b5) Interação entre componentes da formulação e o material de acondicionamento: Formulações ricas em óleos migram para o material de acondicionamento plástico (polietileno alta densidade).
ESTABILIZANTES
1) CONCEITO: Elevam a estabilidade (física, química, microbiológica e toxicológica) da formulação aumentando o tempo de utilização do produto cosmético (prazo de validade).
2) TIPOS:
a) Físicos: São substâncias que visam manter as características físicas da formulação, como aspecto (elevam a consistência e viscosidade), cor, odor e sabor. Como exemplos podemos utilizar: derivados de celulose; gomas; alginatos; polímeros; polióis e emulsificantes.
b) Químicos: Empregam-se substâncias que impedem ou retardam alterações químicas e microbiológicas. Como exemplos temos:
b1) Estabilizantes do pH: Podemos empregar substâncias ácidas (ácido cítrico, clorídrico, tartárico), básicas (hidróxido de sódio, potássio e trietanolamina) ou tampões (ácido cítrico/citrato) que adequam o valor de pH das formulações, visando: facilitar a dissolução de substâncias ativas, evitar reações de decomposição e/ou inativação das mesmas, evitar o crescimento de microrganismos e compatibilizar o pH da formulação com o pH fisiológico.
b2) Antioxidantes: Podem atuar por dois mecanismos de ação:
- Corretivo: removendo os radicais livres que se formam por ação do oxigênio, luz, calor e metais pesados sobre o substrato e interrompendo a reação de oxidação. Como exemplos temos: ésteres do ácido ascórbico, tocoferóis, sulfitos e metabissulfitos, butilidroxi e toluol (BHT).
- Preventivo: removendo metais pesados presentes na preparação, que são considerados fatores desencadeantes dos processos de oxidação. Como exemplos temos: ácido etilenodiaminotetracético e seus sais (EDTA) e ácidos cítrico.
Normalmente nas formulações cosméticas associam-se antioxidantes de ação corretiva e preventiva visando o sinergismo da ação antioxidante.
b3) Conservantes: “São substâncias germicidas ou germistáticas que evitam alterações dos cosméticos, provenientes da proliferação ou contaminação de microrganismos. Podem atuar contra bactérias, fungos e leveduras. Na formulação cosmética, várias substâncias desempenham ação conservante, dentre elas:
- Ácidos e bases: Servem para corrigir o valor de pH. Este deve ser compatível não só com a estabilidade da formulação e da pele, como também das substâncias químicas empregadas como conservantes;
- Solventes orgânicos: Alguns solventes desempenham ação contra os microrganismos da formulação, como álcool etílico e glicerina.
- Substâncias químicas: Inúmeras substâncias químicas atuam contra os microrganismos com ação biocida ou biostática. Dentre estas, podemos citar: parabenos, imidazolidiniluréia, fenoxietanol e formol. O uso destas substâncias deve estar de acordo com a legilação do país, não devem interferir na formulação (compatível com seus componentes e material de acondicionamento) e não devem causar reações indesejáveis ao consumidor.
Normalmente na formulação cosmética se busca um sinergismo na ação conservante, por isso é comum a associação de vários tipos de substâncias com ação conservante. O sistema conservante ideal deve ser validado com o Teste de Eficácia de Conservante.
Fonte: Assossiação Brasileira de Cosmetologia - Guideline - Estudo da Estabilidade de Produtos Cosméticos